Preparando o Natal


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O cantor das árvores – Uma história para o Ano Novo

1Esta história de Ano Novo passa-se na Rússia, no século XIX, no seio de uma comunidade de judeus ortodoxos. Naquela altura, como acontece ainda hoje nessas comunidades, os rapazes passavam muito tempo a aprender escrituras e comentários, e raramente tinham férias. A oração era uma constante na vida de todos, e havia orações especiais para acompanhar cada atividade, de manhã à noite. O homem que canta as orações numa sinagoga chama-se “cantor”.

A par dos ensinamentos formais das escrituras, as crianças das comunidades judaicas da Europa e da Rússia herdaram, das gerações mais velhas, uma tradição folclórica rica. Neste conto de Inverno, a avó de Samuel revela possuir um vasto repertório de histórias que atestam uma sabedoria ancestral, e conta ao neto algo sobre as árvores locais que o rabi não lhe ensinou. O amor de Samuel pelas árvores leva-o a arriscar a vida, mas a canção dele pode ser cantada por qualquer um de nós que ame tudo o que se encontra em perigo no mundo.

Era uma vez um rapaz judeu chamado Samuel, que ia à escola todos os dias, com os outros rapazes da aldeia. O professor de Samuel era pobre e tinha apenas um galo para medir o tempo. O animal tinha uma boa noção das horas e raramente se enganava. Empoleirava-se no balaústre da cama no quarto adjacente à sala de aula e anunciava o início do estudo, a pausa para o almoço, e o fim do dia de trabalho.

Certa manhã, enquanto os rapazes recitavam a lição em coro, um raio de luz solar entrou pela janela e o galo cantou um alto “cocorocó”.

― Já é meio-dia? ― admirou-se o professor. Continuar a ler


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Bolo-Rei – Mª Rosa Colaço

Sem TítuloTodos os anos, quando os velhos Reis Magos acabam de atravessar a pequena estrada de areia que se esboça entre caminhos de musgo e lagos feitos de bocados de espelho partido; quando a estrela de prata que se suspende entre os dois exemplares de “A Paleta e o Mundo” de Mário Dionísio se recolhe para regressar à velha caixa de papelão, com trinta anos de viagens, cheia de bocados de jornal amachucados que ainda guardam notícias de dias que já foram e onde se embrulham os cordeirinhos, os pastores, as oferendas várias que o Menino Jesus recebeu, apesar de já lhe faltar a mãozinha direita que alguém partiu em excesso de limpeza; todos os anos, dizia, recordo a história que o Fernando Midões me contou, certa tarde em que misturámos poemas com lágrimas.

De calças à golfe, lacinho à Baptista Bastos, fato de ver a Deus e celebrar o Dia de Reis, Fernando foi com a mãe jantar a casa das senhoras, gente de talher de prata, criadas de avental branco e crista engomada, cheias de silêncios e reverências. Continuar a ler