Subjacente ao Natal (para lá do mito religioso) estão crenças de renascimento e renovação enraizadas na natureza humana, e cuja origem remota às religiões pagãs. Um conto de Natal de Dickens exemplifica isso mesmo. Um homem, Ebenezer Scrooge, vergado pelos anos e pelas desilusões, recusa-se a participar nos festejas. Não vê neles sentido e prefere a companhia do dinheiro.
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Catedral
Na cozinha, jorra água da torneira para encher o recipiente onde o bacalhau ficará a demolhar. As bolachas suspiram de prazer no forno. A compota borbulha alegremente ao lume e o seu vapor frisa-me o cabelo. Espreito a massa das filhoses que teima em não crescer, experimentando-me a paciência e a esperança. Pousado na bancada, o livro de receitas murmura os seus segredos.
Cada pensamento que tenho é uma fonte de calor que se transforma num rosto. Sinto o pulsar da cidade, apressada. Sinto a sua dor, os seus desencontros, o seu amor impaciente.
A luz que sempre regressa
Se aproveitarmos o bem que encontramos,
sem fazer perguntas, no fim teremos um grande retorno.
Ralph Waldo Emerson
Todos os anos, logo que o Halloween acaba, o nosso filho Matthew fica à espera das luzes. Tem-no feito há mais de doze anos. À medida que os dias ficam mais pequenos e as noites crescem, as temperaturas baixam e as folhas caem, ele fica à espera das luzes.
E sabe que elas hão de chegar.
Os vizinhos do outro lado da rua dispõem sempre um belo, brilhante (e de bom gosto) sistema de iluminação para a quadra festiva, e Matthew adora esperar que o liguem, o que normalmente acontece após o Dia de Ação de Graças.
Mas ele inicia a sua vigília um mês antes de elas chegarem. E depois, a cada dia a seguir ao Dia de Ação de Graças, e até que as luzes se desliguem logo após o Ano Novo, ele fica à espera, entusiasmado, a partir do meio da tarde.